Luís Neto : "Agora percebo o quão importante é o Zenit para a cidade”
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Luís Neto fez capa da revista Наш зенит “O nosso Zenit” e deu uma grande entrevista, onde falou da dificuldade em dormir após a derrota em casa com o Borussia, sobre o que é para si enquanto defesa um bom jogo e a preparação que um jogador dessa posição para ser criticado. Mas a conversa não ficou só pelo futebol! Neto falou sobre a sua cidade natal, sobre a família e sobre o prazer que tem em viver em São Petersburgo e passear na principal Avenida da cidade. Leiam as principais partes da entrevista com Luís Neto para a nossa revista e fiquem a conhecer melhor o jogador mais barbudo da história do Zenit

- O quão difícil foi a noite após o Borussia ter marcado 4 golos ao Zenit?
- Muito difícil. Estava com a minha namorada, sentado em casa a pensar no jogo. Tentei dormir mas não consegui antes das 5 da manhã. Na minha cabeça só tinha imagens do jogo. Além disso pensava que toda a gente estaria a falar desse jogo e que não fizemos tudo o que devíamos. Óbvio que o Borussia é uma equipa forte mas no Petrovsky podíamos ter feito melhor, de forma mais confiante e intensa.

- E às 5 da manhã conseguiste encontrar uma explicação?
- A derrota ou um golo sofrido não é só uma questão dos defesas. É necessário olhar para a equipa como um todo. Claro que quando vez na televisão alguma equipa sofrer quatro golos pensas logo – culpa da defesa. Mas na verdade nós perdemos demasiadas bolas, perdemos bolas em zonas em que o treinador avisou que não podíamos. O Borussia tem bons jogadores e em 5 ocasiões marcaram 4 golos. Eles sabiam onde e como destruir os nossos ataques, como pressionar o nosso meio campo e nós não jogamos com confiança suficiente. Depois, quando sofres 2 golos nos primeiros 5 minutos, mesmo faltando tanto tempo, tu só pensas que nada de bom pode vir. Quando marcamos o 1:2 e podíamos voltar ao jogo, eles marcaram logo de seguida e depois do 2:3 mais uma vez a mesma coisa. E com o tempo a passar notas que já não há tempo para tentar algo.

- O que é o melhor de se ser um defesa central?
- O que é o melhor? Adoro quando ganhamos e não sofremos golos. Volto calmamente a casa com a certeza que nesse dia ajudei a equipa. Quando os jogadores que jogam mais à frente no terreno têm confiança em ti. Isso também é importante. Perceber a tua importância na equipa. Os defesas e guarda-redes estão sempre sobre pressão. Podes correr durante 85 minutos, saltar, ganhar todos os lances e nesse minuto se tomas uma decisão errada perdes o jogo. Tudo pode mudar num pequeno momento.

- E o que é o mais difícil?
- O mais difícil é óbvio. Quando estás em grande forma, quando te sentes pronto para voar, pode sempre aparecer um momento que não controlas e que nada podes fazer. E aí pensas: Como é que foi possível? E começas a pensar se podias ter feito um passe melhor, se podias ter estado melhor na jogada. O pior é quando te sentes completamente preparado e as coisas não acontecem da melhor forma. Não apenas individualmente mas à equipa como um todo. Aí é um vazio, pensar que se fez tudo da melhor forma e não nos trouxe o resultado desejado.

- Pensava que o pior era ser-se sempre criticado
- Sim, mas como disse, nós e os guarda redes somos sempres criticados no erro. No entanto gostava de dizer que a culpa de um golo não é só dos defesas. Por exemplo quando o jogo acaba e em que sofremos golos em erros da equipa, eu posso ver o lance 10 ou 15 vezes em casa. E muitas vezes penso que podia ter jogado mais rápido, ter feito algo diferente. Pois na verdade quando alguém falha é normal que eu esteja sempre próximo. Pois na verdade mesmo se o erro que dá o golo começa numa zona que não é a minha, será normal que no fim da jogada eu esteja algures próximo. E depois as pessoas olham e pensam: O Neto já falhou outra vez. E se é verdade que às vezes os defesas falham algo o normal é um golo contra vir de erros de toda a equipa. Às vezes acontece que nem jogas muito bem e não sofres golos e noutro jogo estás sempre bem e num canto a teu favor, acabas por levar com um contra-ataque de 5 para 3 e sofres.

- Em todos os períodos de transferência existem rumores que o Zenit pode comprar um central. Isso não te afecta?
- O clube tem o direito de procurar novas soluções e de se fortalecer. Se queremos lutar contra os maiores clubes novos jogadores terão de vir. No entanto quem vier para o clube é para o fortalecer e não para substituir alguém em particular. Portanto é normal e o clube está a fazer tudo bem.

- Diz-se que um dos maiores problemas do Zenit é a barreira linguística, pois o grupo está dividido nos que falam Russo e nos estrangeiros. É mesmo assim?
- Não há nada de mal com o facto dos Russos não falarem outra língua nem dos estrangeiros não falarem russo. Isso é um problema de comunicação sim, mas não nos trás problemas. Temos os intérpretes e se não estiverem lá nós sempre encontramos uma língua comum e o ambiente é normal. Todos estamos interessados no mesmo. O ambiente na equipa é bom e não deveria haver nenhuma surpresa no facto dos estrangeiros se sentarem juntos ao almoço na mesma mesa e os russos na mesma mesa. Simplesmente porque podemos estar a conversar. Claro que falo mais com o Hulk, Danny, Witsel Ansaldi ou Rondón do que com os jogadores Russos. Mas isso acontece em qualquer lado. O mais importante é estarmos unidos dentro e fora do campo.

– Fala-nos mais da tua cidade. Cresceste na Povoa de Varzim, lá também cresceu o Bruno Alves e quase todos os homens das duas famílias jogam ou jogaram futebol. Isso é uma especificidade dessa zona ou acontece em todos o Portugal?
- Junto da Povoa existem mais duas cidades próximas, a uma distância de poucos quilómetros. E sim, é normal toda a gente jogar futebol. Existem duas equipa grandes, o Varzim e o Rio Ave. Entre elas há uma grande rivalidade. Mas também existe muita gente que joga por clubes pequenos e amadores. Normalmente começas aí e depois podes passar para a formação do Varzim. E todos estão prontos para jogar por amor à cidade. Todos querem ser futebolistas. Por isso é normal que apareçam jogadores profissionais. Também lá é normal o clube ter de vender os jogadores. Um jovem jogador, treina, começa a jogar, sai para outro clube e o Varzim ganha algum dinheiro pela transferência. E existem muitos a sair da formação do Varzim.

- Quantas equipas existem na Póvoa de Varzim?
- Um clube grande – Varzim, e algo como 14 clubes que jogam ligas amadoras.

- E quem é mais popular na cidade? Tu ou o Bruno?
- O Bruno claro. Ele antes jogou no Porto, portanto toda a gente o conhece.

- E encontrar pessoas com a camisola do Zenit é possível?
- Ahaha, sim muitas! Eu e o Bruno lavamos algumas camisolas quando estamos lá! E tudo pode ser encontrado lá! Fatos de treino, equipamentos de treino e jogos, ou calções que os meus amigos levam para a praia, podem encontrar de tudo. A regra é simples: se virem camisolas com o logótipo antigo é um amigo do Bruno. Se for com o novo, é meu amigo!

- No teu facebook em cada foto que tiras em Portugal estão no mínimo 15 pessoas. Tens uma família assim tão grande?
- Família e amigos. Para mim todos os amigos próximos são como família. Nas férias juntamo-nos todos. Os meus pais, avós, primos. Preparamos comida, nadamos… É uma festa à Portuguesa durante 10 dias.

- E o que fazem eles quando não há festa de família?
- O meu pai é reformado e a minha mãe tem um pequeno negócio – um salão de manicure. A minha irmã ajuda lá e está a estudar. Um dos meus primos joga no Varzim e outro na academia do Porto. Ele veio cá jogar pelo Porto na Liga dos Campeões jovem. No geral é uma família normal. E todos vivemos perto. A família do lado da minha mãe a 20 metros de nós, a família do meu pai também muito perto. Os meus avós, primos, tios, irmã… todos moram ao atravessar a rua. Sempre vivi aí até ter ido para a madeira.

- A tua namorada é de lá?
- Sim, claro! Para a casa dela eram 200 metros.

- Vocês conheceram-se na pré-escola?
- Não, conhecemo-nos no caminho para a escola. Normalmente eu ia pelo mesmo caminho para a escola pelo qual ela também ia. A nossa cidade não é muito grande. Temos o centro da cidade e daí tudo é perto. Se fores na rua e perguntares onde é a praia, toda a gente vai dizer – é já ali! O restaurante – também é perto! O Estádio – mesmo ao lado. Tudo é perto lá.

- Tu deves fazer parte dos 5% dos jogadores da selecção Portuguesa que não usam gel no cabelo.
- Haha, sim! Mas isso depende mais do estilo de cada um. Eu tenho o meu estilo em que o gel não está incluído. Talvez um dia isso possa mudar mas o normal será usar o cabelo sem gel.

- Sabes que a barba é muito conectada com a imagem de marca de grandes pessoas. Os imperadores e os grandes guerreiros tinham sempre barba.
- Sim mas na verdade eu costumava fazer sempre a barba. Precisava de ir algures e lá fazia a barba. Não queria barba nenhuma. Mas como sabes, quanto mais nos barbeamos mais forte ela cresce. Uma vez deixei crescer e gostei do aspecto. Além disso algures no secundário tínhamos um jogo que se ganhássemos íamos para a Liga principal. E eu disse que se ganhássemos eu não fazia a barba. Nós ganhamos e eu deixei a barba assim.

- Sabias que o teu estilo é por exemplo muito parecido com o dos habitantes de Makhachkala ?
- Hahaha, bem não. Eu vi as pessoas em Makhachkala. A barba talvez sim. Mas o corte de cabelo é normalmente diferente do meu.

- Qual foi o primeiro Russo que conheceste?
- Que conheci pessoalmente?

- Não necessariamente. Apenas alguém que tu imediatamente tenhas pensado: “Sim, é Russo”.
- Hmm, talvez no Rocky? Havia um Russo lá – Ivan Drago! Talvez antes houvesse também a música russa na minha memória. No casamento da minha irmã passou a música “Kalinka – Malinka”. Isso foi bem antes de vir para o Zenit. 5 ou 6 anos atrás. Antes disso a minha visão sobre a Rússia era pequena: frio, pessoas não querem falar, muita neve e tradições estranhas. Depois vim e percebi que não era nada disso. Mesmo se as pessoas não falam Inglês, estão sempre dispostas a ajudar. A mentalidade das pessoas é assim. E esta cidade é incrível! Foi uma grande surpresa, uma grande surpresa! Viver aqui é muito bom, Portanto a questão sobre a dificuldade em viver aqui caiu logo por terra. Tudo aqui é envolvente, tudo é bom.

- Normalmente os jogadores estrangeiros têm três estereótipos sobre a Rússia: É frio, as condições não são as melhores e os salários são altos. É essa a tua ideia?
- Não, pelo contrário. Mal cheguei vi que tudo era bom aqui. A maior surpresa foi a língua. O frio era praticamente o mesmo em Itália, talvez sem tanta neve. Mas aqui em qualquer sitio que se vá, quer seja no hotel ou no centro de treino, dentro dos edifícios está sempre quente. Já agora, quando trouxe a minha família aqui pela primeira vez, eles sentiram-se muito bem em São Petersburgo! Não apenas em minha casa mas em toda a cidade. Antes de vir já pensava que tudo ia ser bom, mas agora digo que tudo é excelente! Gosto de ir andar em Nevsky. Não falo de ir fazer algumas compras, mas apenas de ir passear ou almoçar lá. Mesmo quando está frio as pessoas estão na rua e há muita luz em todo o lado. E fiquei muito surpreendido com o centro de treinos aqui. Na selecção também é bom, no Siena também. Mas aqui é fantástico! Podes vir às 9 da manhã e às 4 da tarde ainda podes calmamente estar lá e sempre com algo para fazer.

- Fala-nos da Avenida Nevsky. Quantas vezes por semana costumas ir lá passear?
- Um par de vezes. Quando tenho visitas ainda mais. Quando temos mais treinos provavelmente menos pois chego cansado dos treinos e prefiro ficar a ver um filme ou um jogo de futebol, jantar… e quando damos por ela o dia terminou. Mas vou muito regularmente. Lá podemos passear, comer um gelado ou por exemplo ir a um local perto da loja do Zenit em Nevsky onde há um grande piano no primeiro andar. E lá eles têm uns croissants maravilhosos. Vou sempre lá!

- Para ti a lealdade ao clube e às suas cores tem algum significado?
- Sim, claro que sim. Mas eu tenho também a minha própria história – o meu primeiro clube. Aqui estou certo que é o mesmo para os jogadores que vieram da academia do Zenit e chegaram à equipa principal – um sentimento especial. Defender a nossa cidade é uma honra e um orgulho. Mas ao mesmo tempo, em algum momento temos de fazer escolhas e tomar as nossas decisões. E em cada clube por onde passamos deixamos uma parte de nós e o clube fica nos nossos corações para sempre. Até ao momento o Zenit é o pico da minha carreira. Talvez no início eu não entendesse bem o que o clube significa para esta cidade, para os seus adeptos. Não percebia o quão grande é este clube. Mas isso é normal e com o tempo vamos aprendendo mais e mais. Agora posso dizer que quero muito vencer com o Zenit. Cada derrota aqui é como uma tragédia e eu quero vencer. Agora percebo claramente o quão isso é importante. Ao início o Bruno e o Danny tomavam conta de mim e na verdade a minha vida consistia apenas em treinar, jogar e ir para casa. Não sabia o que as pessoas pensavam e como viviam aqui. Agora tudo é claro. Jogamos e sentimos a responsabilidade. Se perdemos eu não vou ao restaurante. Porquê? Isso não é correcto, as pessoas não estão felizes. Vamos ver como vai ser o futuro mas para mim é claro que a minha mudança para o Zenit foi o passo certo. O nível é muito alto, a cidade é incrível. O meu objectivo é vencer títulos com o Zenit!

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