"O Zenit e a Liga Russa vistos de fora" - 2ª entrevista
Adicionado | Autor | Comentários

As ligações do Zenit a Portugal nos últimos anos têm sido muitas. Desde 2005 o clube já defrontou o Vitória de Guimarães, Nacional, Porto e Benfica. Danny, Fernando Meira, Bruno Alves e Luís Neto fizeram ou ainda fazem parte do plantel. Na época passada o Zenit quase levou à loucura os adeptos do Porto e Benfica, quando já no fim do mercado o clube contratou Hulk e Witsel.

Quisemos então perceber um pouco melhor como o clube e o futebol Russo é visto em Portugal. Recordações, comparações entre as duas Ligas e o que pode o Zenit fazer para melhorar as suas prestações. Para isso convidamos jornalistas e autores de páginas desportivas no Facebook a responderem-nos a algumas perguntas, sendo que o convidado para esta segunda entrevista foi Rui Malheiro, um dos maiores conhecedores de futebol em Portugal, tendo colaborado com vários treinadores no Rio Ave, nos gabinetes de prospecção do Boavista ou na elaboração da primeira base de dados portuguesa do antigo Championship Manager. Isto apenas para dar alguns exemplos. Rui Malheiro é neste momento também um dos autores do excelente site futebolmundial. Aqui fica a entrevista!

1.jpg

Qual foi o primeiro encontro que te lembras de ter visto do Zenit?
Lembro-me da equipa do Zenit Leninegrado que foi campeã soviética em 1984. Era treinada por Pavel Sadyrin, selecionador russo no Mundial 1994, e não tinha muitos jogadores internacionais soviéticos. Recordo-me do guarda-redes Biryukov, grande referência do clube na década de 80, de Valeri Broshin e Yuri Zheludkov, uma das grandes figuras do título. No que diz respeito a jogos completos, admito ter visto algum jogo do campeonato russo, na década de 90, em que o Zenit tenha participado. Mas recordo-me de um jogo para as competições europeias: Zenit 0-3 Bolonha, em 1999, com 2 golos de Signori.


O que pensas que está a faltar à equipa que a levou a não ter o mesmo sucesso Europeu depois de 2008?
2008 foi o ano da consagração europeia de um projeto que começou a desenhar-se com a chegada de Dick Advocaat ao clube. Também foi um ano de exceção na história do clube. Relembro que em 2006/07, o Zenit já conseguira chegar aos quartos-de-final da Taça UEFA. 2007/08 foi a consolidação desse trajecto. A final da Taça UEFA acabou por ser o jogo mais fácil de uma trajetória complicada, que incluiu eliminatórias extremamente difíceis frente a Villarreal e Marselha, como também diante do Bayer Leverkusen e Bayern de Munique. As duas últimas, com um Zenit bastante “fresco”, em virtude de estar em arranque de temporada, mostraram que a equipa estava muito forte e podia chegar à glória europeia. A partir daí, e também com a conquista da Supertaça Europeia, o efeito surpresa desvaneceu-se e a participação na Liga dos Campeões elevou a dificuldade. É certo que o clube tem vindo a reforçar-se muito, mas os resultados europeus, principalmente esta temporada, têm ficado aquém do esperado. No entanto, reforço uma ideia: contratar jogadores de qualidade inegável nem sempre é sinónimo de formar um onze forte e coeso. Mesmo com poucas estrelas, a equipa de 2008 tinha essa virtude.


O que pode o Zenit aprender com os clubes Portugueses de forma a tornar-se melhor? E o que podem os clubes portugueses aprender com o futebol Russo?
São realidades completamente distintas. O futebol russo, com o fim da U.R.S.S., viu partir a grande maioria dos seus maiores talentos, uma situação similar à que o futebol português viveu com a «Geração de Ouro» e a Lei Bosman. Contudo, os últimos anos, fruto da entrada de investidores, permitiram aos clubes russos segurar os seus melhores jogadores e, nos dias de hoje, a Seleção A e Sub-21 é quase totalmente composta por jogadores que atuam no futebol russo. Isso, como sabes, continua a ser algo impossível no futebol português. Para além disso, o mercado português é um excelente alvo para os clubes com mais dinheiro no futebol russo. Basta ver o investimento que o Zenit fez em aquisições. Se nos reportarmos à temporada 2011/12, o Zenit contratou 3 dos jogadores mais talentosos do campeonato português: Hulk, Witsel e Neto, este ainda com uma passagem por Itália. Acredito, no entanto, que o futebol russo poderá evoluir a nível da prospeção de talentos, contratando-os mais cedo. Portugal é uma excelente porta para um jogador que quer entrar ou tornar-se mais visível no futebol europeu. Já a Rússia continua a ser uma porta para contratos milionários de jogadores que tanto podem estar no início (menos), a meio ou em fim de carreira. O que nem sempre é bom em termos de motivação e para o espírito de grupo.


Qual o jogador Russo que te traz mais memórias? Porquê?
Era um apaixonado pelo futebol soviético da década de 80. Rinat Dasayev foi o meu jogador preferido desse período. Magnífico guarda-redes. A partir da década de 90, sem qualquer dúvida, Aleksandr Mostovoi, o Czar. Médio ofensivo de uma classe extraordinária, muito temperamental, com uma capacidade técnica invulgar, o que lhe permitia criar desequilíbrios no um para um e tornava-o capaz de definir, com qualidade, com os dois pés.


Se pudesse escolher 3 jogadores para reforçar o Zenit para a próxima época, quais seriam as tuas opções?
O estudo do reforço do plantel terá que passar também pelas eventuais saídas. Olhando para o atual plantel creio que seria importante contratar mais um extremo, um avançado e um defesa central. Não excluiria a hipótese, face à veterania de Zyryanov e Semak, de encontrar um médio interior, mas é uma posição com mais soluções. Arnautovic (Werder Bremen), que já tem sido um nome apontado, seria uma boa opção, até pela versatilidade para a 1ª posição, ainda que jogadores como Markovic (Estrela Vermelha) e o russo Cheryshev (Real Madrid Castilla) poderiam ser ótimas incorporações. No ataque, Wilfried Bony, do Vitesse, poderia ser um excelente reforço, assim como Berbatov (Fulham), pensando num avançado mais experiente. Na zona central da defesa sei que se tem falado num eventual regresso de Skrtel (Liverpool). Parece-me uma boa opção, ainda que haja jogadores mais jovens, como Dragovic (Basileia) ou Vlad Chiriches (Steaua), que poderiam ser bons reforços.

Voltar a lista