"O Zenit e a Liga Russa vistos de fora"
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As ligações do Zenit a Portugal nos últimos anos têm sido muitas. Desde 2005 o clube já defrontou o Vitória de Guimarães, Nacional, Porto e Benfica. Danny, Fernando Meira, Bruno Alves e Luís Neto fizeram ou ainda fazem parte do plantel. Na época passada o Zenit quase levou à loucura os adeptos do Porto e Benfica, quando já no fim do mercado o clube contratou Hulk e Witsel.

Quisemos então perceber um pouco melhor como o clube e o futebol Russo é visto em Portugal. Recordações, comparações entre as duas Ligas e o que pode o Zenit fazer para melhorar as suas prestações. Para isso convidamos jornalistas e autores de páginas desportivas no Facebook a responderem-nos a algumas perguntas, sendo que o primeiro convidado foi o autor da página observatório ligas europeias futebol, António Valente Cardoso. Na sua página todos os campeonatos têm direito a destaque e para quem quer estar informado sobre os acontecimentos fora das grandes Ligas, esta é a página a seguir. Aqui fica a entrevista.

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Qual foi o primeiro encontro que te lembras de ter visto do Zenit?
Imagino que não tenha sido o primeiro desafio que tenha visto do Zenit, terei com certeza observado jogos da liga russa antes, mas o primeiro jogo que me salta à memória é o desafio com o Vitória de Guimarães para a UEFA em 2005 ou 2006, num grupo que tinha o futuro vencedor da prova, Sevilha, e onde o Zenit recebeu e venceu o Vitória por 2-1, com um golo de Arshavin numa equipa de influência checa, treinador, Skrtel, Contofalsky, Mares e que já contava com Denisov, Anyukov, Kerzhakov, face a um Vitória de Pacheco muito interessante, Saganowski, Benachour, Svard, o miudinho Targino, Neca...

O que pensas que está a faltar à equipa que a levou a não ter o mesmo sucesso Europeu depois de 2008?
Sucesso europeu... a liga russa vem crescendo, com o forte investimento local, cimentando-se na Europa, contudo ainda está um patamar abaixo das ligas inglesa e espanhola, mesmo da alemã, em todos os critérios que determinam triunfos europeus, incluindo influência dentro da própria UEFA, esse é um factor de peso. O outro, que nunca se pode relevar, prende-se com a ausência de competição no retomar das competições europeias em Fevereiro, situação que prejudica as formações leste europeias, cujas provas nacionais apenas regressam em Março face ao clima adverso. Poder-se-iam encontrar outras justificações, de índole tacticista por exemplo, mas seriam mais conjunturais, dependendo dos técnicos que estão no comando das equipas.

O que pode o Zenit aprender com os clubes Portugueses de forma a tornar-se melhor? E o que podem os clubes portugueses aprender com o futebol Russo?
Questão de resposta bastante complexa, dado que seria necessário conhecer os procedimentos internos, a academia, a estrutura, para poder opinar de forma válida sobre a situação, que se aplica na forma inversa também. Da minha parte, como sou crítico do modelo de gestão dos clubes portugueses, não vejo grande aprendizagem que se possa retirar. Vive-se acima das possibilidades, despreza-se o talento local, não se percebe o clube como elemento integrante de uma competição, trabalhando em harmonia para o crescimento de toda a, neste caso, liga... Não necessariamente com os clubes mas com portugueses, creio que o Zenit poderá ganhar em termos de scouting e treino propriamente dito, aí somos e temos dos melhores do mundo, sem dúvida. O futebol russo tem algo a que Portugal não pode aspirar directamente, o poderio económico-financeiro. De qualquer forma, o que se poderia fazer em Portugal era aproveitar essa pujança financeira e canalizá-la para cá (já temos presença russa em Inglaterra, na França, porque não Portugal?). Claro que isto obrigaria a uma mudança de paradigma no futebol português e o fim do clube enquanto tal, passando ao regime, real, de empresa. Compreender que uma viagem na liga russa é igual ao total de deslocações continentais na liga portuguesa é assustador, mas talvez seja uma boa ilustração da diferença entre ambos os campeonatos.

Qual o jogador Russo que te traz mais memórias? Porquê?
Saltam dois à memória, Rinat Dasaev, um dos melhores guarda-redes que já se viu, mas cuja sobriedade levou a que, talvez, fosse menosprezado face a outros. Sendo o México 86 e, especialmente, o Euro'88, as minhas primeiras memórias futebolísticas, ficou na mente, a que se alia a mudança para Sevilha e as exibições nos andaluzes. Cherbakov, um dos mais vistosos jogadores no Mundial de sub20 'português, em 1991, e cujo trágico acidente ceifou uma carreira que se antevia de grande nível.

Se pudesse escolher 3 jogadores para reforçar o Zenit para a próxima época, quais seriam as tuas opções?
O Zenit tem um plantel já maduro, em todos os espaços se deve começar a considerar a renovação. Dito isto, é sempre complicado pensar em jogadores, pois não é apenas citar um nome mas tentar perceber se esse futebolista - neste caso - se enquadrará na equipa, na liga... assim, vou colocar três opções internas e três externas. Creio que Smolnikov, o lateral do FK Krasnodar, poderia funcionar bem como alternativa ao Anyukov, uma das lacunas do plantel, um lateral que concorra. Depois, duas opções para o ataque, o gigante Artem Dzyuba, do Spartak, que apesar da altura tem noção de espaço, de área e dos companheiros, e Kokorin, o móvel avançado do Dínamo Moscovo, que se vem mostrando um talento concretizador. (aquando da entrevista ainda não tinha sido vendido ao Anzhi) Claro que na liga russa o jogador número um seria sempre Dzagoev, independentemente dos futebolistas que agora por lá actuam a peso de ouro, Alan é, para mim, o melhor jogador da liga. 'Importações' levam a considerar dezenas de nomes, mas com somente três escolhas, Dries Mertens, o extremo do PSV, que pode criar uma relação com Witsel e com os golos estonteante, a explodir esta temporada, mas cujo talento já se lhe conhece, excelente a flectir da esquerda para o meio - com Hulk a fazer o mesmo no flanco oposto... até assusta só imaginar. Passaram-me alguns nomes para o ataque pela cabeça também, Sjem de Jong, Jelle Vossen, Bony... mas a idade de Zyryanov e Semak levam a pensar seriamente no meio-campo. Com os condicionalismos inerentes ao limite de estrangeiros, provavelmente iria para o Stepanenko do Shakhtar Donetsk, ainda com elevada margem de progressão, médio defensivo de leste - com capacidade de transporte de bola e passe, e chegada à área -, e João Moutinho (também transferido entretanto), que caía que nem uma luva neste plantel, creio eu, sendo um dos mais completos médios da actualidade!

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